O cansaço dos influenciadores
Junho 02, 2025
Cláudio Gomes
De vez em quando vejo-me obrigado a fazer "mute" às stories da quantidade cada vez maior de alegados influencers de redes sociais. Isto é especialmente recorrente na rede social Instagram, que há muitos anos a esta parte deixou de ser uma rede de fotografias distinta para tornar-se num captador de vídeos curtos e virais incaracterístico, para além de um feudo para pessoas que se querem afirmar nas mais diversas áreas, desde a moda, a nutrição, o fitness, as viagens, a prostituição disfarçada e cada vez mais da estupidez.
Se não temos cuidado, tornamo-nos vítimas silenciosas desta gente, a cada visualização ou "engage" que lhes oferecemos.
Entendo que quem leva as redes sociais como um trabalho, tenha de ser regular ou como se diz agora, consistente, nesse sentido essas pessoas lançam dez ou mais stories todos os dias, ainda que só um ou dois tenham alguma relevância e não seja uma redundância dos outros.
Estas pessoas, mesmo as que têm intenções nobres, talvez não percebam que são cansativas, muitas vezes até irritantes e repetitivas e não raras vezes são portadoras de um egocentrismo mal disfarçado. Também não percebem que ao insistir na publicação massiva de reels, o efeito que provocam em quem os segue, a prazo, é exatamente o oposto daquilo que eles pretendem.
Fico preocupado com o efeito desta gente nos adolescentes e nos jovens adultos porque alguns destes alegados influencers mesmo sendo já trintões e às vezes quarentões, comportam-se como autênticos adolescentes ou outra espécie qualquer de criaturas mimadas. Não existe situação mais deplorável que ver algumas destas pessoas a publicarem sketches alegadamente humorísticos, cujas piadas são do mais básico, aquelas que nós deixámos de fazer quando fomos para a escola secundária, o discurso é do mais boçal, as situações são do mais vulgar e as companhias nos videos são personagens que teríamos vergonha de levar a casa. Não raras vezes os reels que se tornam virais e alvo de falatório neste mundo paralelo das redes sociais são propriedade de criaturas que são do mais burgesso que existe, arrogantes, insolentes, aqueles que dantes estavam confinados aos cafés dos subúrbios ou às tabernas da província, e que se veem, de repente, com um altifalante capaz de amplificar a sua ignorância além fronteiras.
São os Numeiros, são as Mariana Bossis, são os Tiagos Grilas, as Cláudia Nayaras, os Windohs, os Wuants, as Ritas Pereiras, os Diogo Faros e por aí fora. São dos mais populares nas redes sociais e nenhum deles é conhecido por saber fazer algo de útil, por ter uma habilidade que ninguém mais tem, por ter um talento que possa estimular pessoas de qualquer idade a seguir o seu exemplo, por ter um pensamento inspirador, por terem feito algo merecedor de uma condecoração qualquer. Quase sempre são conhecidos apenas pelas piores razões, pela sua vulgar conduta e pelas alarvidades que daquelas bocas saem. Todos eles são representantes da cultura big brother, deste tempo de futilidade breve, deste capitalismo tardio repleto de todos estes vazios coletivos, preenchidos nas redes sociais pelo oco de uma geração individualizada, ironicamente apelidada por políticos e jornalistas como a "mais bem preparada de sempre".
E como estas pessoas consideram-se pequenos deuses com pés de barro, quando caem, raramente se voltam a reerguer.
E essa é a sorte dos seus antigos seguidores.