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Rua do desassossego

Onde cantam as cigarras

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Nunca foi só futebol

Julho 05, 2025

Cláudio Gomes

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Já tudo foi dito e já tudo foi escrito mas existem momentos em que todos nós sentimos a necessidade de desabafar, de dizer algo nosso, porque era alguém que parecia ser tão igual a nós. Não nos sentimos tão próximos de um Cristiano, de um Neymar ou de um LeBron, como nos sentimo-nos próximos de um Diogo Jota, o rapaz de Gondomar, de origens humildes, que chegou ao topo numa das poucas áreas em que neste país não é necessário herdar para ser alguém, ou ser filho do doutor, ou conhecer as pessoas certas e mover-se nas redes de influência. Penso que é por causa dessa familiaridade que o Diogo tinha com a maior parte de nós, que a onda de comoção foi ainda maior do que esperávamos. Ele chegou ao topo de forma digna e a um clube que me é especial e tem na sua placa uma espécie hino eterno, agora ainda mais ligado ao Digo,You'll never walk alone.

O Diogo não causava anticorpos nem sentimentos mistos. Não sabíamos o que pensava, o que gostava e o que desgostava, o que lia ou o que ouvia. Ele talvez soubesse que era melhor assim, usando a sabedoria da simplicidade. Poderia ser perfeitamente aquele colega de turma que não chamava a atenção e que nunca nos lembraríamos dele hoje em dia. Gostávamos todos dele porque ele mantinha a atitude de antivedeta, não se importando de ajudar os outros a serem ainda mais vedetas do que ele, uma raridade hoje em dia. Um gigante que passou discretamente pelo altar da vida num mundo repleto de anões que se esticam à procura dos holofotes, sem sucesso. Gostávamos todos dele porque, conhecendo agora mais pormenores da sua vida, ele viveu as etapas certas, na altura certa, colhendo os frutos certos, num tempo em que a maior parte das pessoas parecem ter deixado de o saber fazer, num tempo em que a sociedade parece ter falhado em criar mais pessoas assim, pessoas que passam pelos pingos chuva das polémicas e dos egos, que vivem as suas vidas com significado e sem ruído.

O dinheiro e a projeção nunca lhe encheram a cabeça de vaidade, não lhe encheram o corpo de piercings e tatuagens, de penteados burlescos, de jatos privados, de grandes produções para marcas e redes sociais. E não lhe encheu a vida com mulheres de ocasião num tempo e num meio tão propício a usar e a deitar fora, como é este.  Tinha casado com a namorada de sempre há poucos dias e tinha três filhos. Não se consegue encontrar desfecho tão imoral para tão profícua vida, arrancada antes dos trinta.

Não me esqueço das palavras do gigante Agostinho da Silva, que sobre a morte dizia "Quando acabássemos, dever-se-ia dizer: morreu um poema". Foi isso mesmo que morreu.

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